Perfil, crenças, sentimentos e atitudes de familiares doadores e não-doadores de órgãos

Perfil, crenças, sentimentos e atitudes de familiares doadores e não-doadores de órgãos
Resumo em português
A escassez de órgãos para transplante representa um problema mundial. No Brasil, apenas um sexto dos potenciais doadores que chegam às Unidades de Terapia Intensiva tornam-se doadores efetivos. A negativa das famílias representa o principal obstáculo para o processo de doação e transplante de órgãos. OBJETIVOS: Explorar os fatores associados com a decisão de doar entre as famílias de potenciais doadores de órgãos sólidos e correlacioná-los com a taxa de consentimento. MÉTODOS: No período de novembro de 2004 a maio de 2006, 243 famílias de potenciais doadores foram entrevistadas pela Organização de Procura de Órgãos do Hospital das Clínicas para se manifestarem quanto à possibilidade de doação de órgãos. Após um ano do óbito, respeitando-se o luto, todas as famílias foram convocadas para uma nova entrevista, objeto do presente estudo. Para tanto, utilizou-se um questionário fechado com entrevista devidamente estruturada. Os dados coletados foram analisados quantitativamente. Todas as análises estatísticas foram realizadas com auxílio do programa SPSS para Windows 13.0. Significância estatística foi assumida para o valor de p < 0,05. RESULTADOS: Dos 56 familiares que concordaram em participar do projeto, 57% haviam concordado com a doação e 43% recusado. Entre outros fatores, gênero, etnia, escolaridade, renda e religião não influenciaram no processo de doação. Diferentes variáveis foram associadas à decisão de doar na análise bivariada, por exemplo: idade mais avançada do potencial doador (p=0,007), morte encefálica causada por doença (p=0,004), satisfação familiar com o profissionalismo da abordagem para doação (p=0,004), crenças funcionais como fazer o bem antecedentes à decisão (p=0,001), sentimento de conforto durante a abordagem da Organização de Procura de Órgãos (0,027), e opinião e atitude de maior peso no processo decisório foram dos descendentes ou colaterais do potencial doador (p=0,005). Porém na análise multivariada somente idade do potencial doador e opinião de maior peso no processo decisório emergiram como variáveis significativas correlacionadas positivamente com o consentimento da doação. CONCLUSÕES: Quando irmãos, tios ou filhos do potencial doador estão diretamente envolvidos no processo de tomada de decisão, normalmente o potencial doador tem idade mais avançada e a probabilidade de consentir a doação é estatisticamente maior. Aspectos que dificultam a aceitação da perda como: morte violenta; estreito vínculo afetivo; idade prematura; inversão da ordem natural, isto é, filho morrer antes dos pais; e principalmente negação da morte são fatores que também dificultam o consentimento para a doação de órgãos. Estratégias no campo da captação de órgãos devem ser aprimoradas e desenvolvidas visando uma abordagem cada vez mais humana e educativa para os coordenadores e membros das Organizações de Procura de Órgãos.

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